sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Carta de Marília, para o amigo poeta

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Olá meu amigo poeta. Adoro escrever para você contando-lhe novidades.

Desta vez, tenho uma ótima notícia. Estou fazendo um curso de teatro. E parece-me que entre todas as escolhas que já fiz na vida, esta é uma das mais importantes. Você sabe o quanto sou apaixonada por arte e o quanto acredito que ela pode transformar um universo inteiro, quereres, saberes, poderes, fazeres.

Lembro-me da primeira peça de teatro que lemos na faculdade. Lembra? “Édipo rei”. Naquela ocasião, discutíamos se Édipo era vítima da “ate” (do destino) ou da “hamartia” (cegueira). Antes de dizer que Édipo foi vítima tanto da força do destino; como da cegueira, que faz o homem errar porque não enxerga o melhor caminho, preferíamos dizer que foi a sua cegueira que gerou aquele destino. Édipo não cerrou seus olhos no fim da peça, mas no momento em que tomou conhecimento de sua maldição, em Corinto, e escolheu fugir para outro lugar, sem antes conhecer ao menos a realidade que o cercava. Dizíamos que aquele final trágico apenas metaforizava a cegueira humana.

É por isso que estou no teatro. Para buscar novas formas de enxergar o que nos cerca e poder mostrar as realidades invisíveis para as pessoas. Ampliar as possibilidades de enxergar as coisas. Aumentar as chances de escolhas. Diminuir nossa escravidão à cegueira. Por que não enxergar com nossos próprios olhos os caminhos que temos? Mudar nosso destino com os olhos abertos.

Existe um sentido para este mundo existir!

Ribeirão Preto, 5 de fevereiro de 2010.