terça-feira, 30 de março de 2010

Hoje faz um ano que perdemos o Jorge

Perdemos o Jorge

Embora a perda da vida seja a nossa única certeza, nunca estamos preparados para enfrentá-la, especialmente quando ela acontece de repente, tragicamente, com uma pessoa querida, próxima.

Perdemos o Jorge. Nosso pequeno grande realizador de sonhos de 44 anos. Corajoso. Apaixonado. Nosso líder Jorginho.

Contou-me um amigo professor, colega universitário do Jorge, que ele costumava andar pela faculdade com uma CPU debaixo do braço. Naquela época, o computador ainda era pouco acessível, de uso doméstico, mas o Jorge inventava um jeito de usá-lo em qualquer lugar, coisa que ninguém fazia ali na época.

Com o computador debaixo do braço, ele escolheu a carreira de auditoria. Foi trainee, assistente, encarregado e, aos 28 anos, sócio. Viajou muito. Um auditor sabe o que é estar longe de casa. O despertador toca e a gente acorda sem saber direito onde está. Só depois de um ou dois minutos é que a gente lembra onde vai ser o café da manhã.

Uma vez perguntei para o Jorge porque a nossa empresa carregava a palavra Prisma no nome. Ele sorriu dizendo que a idéia tinha sido dele e convidou-me para sentar. Era assim que ele fazia quando alguém chegava à diretoria e lhe fazia uma pergunta. “Senta aqui, vamos conversar”. Ele gostava de conversar com as pessoas. Refletir junto com elas. Ele era daqueles que olhava nos olhos. Fazia a gente pensar.

Sentamos no sofá e ele me explicou que Prisma era o nosso motivo. “O prisma é utilizado para refletir e espalhar luz. É sólido. Transparente. É o que nós somos. O que queremos ser”.

Era exatamente assim que o Jorge vivia cada segundo. Ele acreditava nas pessoas, gostava de conviver com elas. De ensinar e ser ensinado... em qualquer hora do dia, não importava onde... no escritório ou na casa dele... como trabalhador voluntário de bairro, escola ou instituições... nas empresas e cidades por que passava... Quantos aprenderam e ensinaram com o Jorge? Impossível contar. Como eu costumava lembrar-lhe dos seus compromissos, vez ou outra ele dizia sorrindo: “por que será que eu me envolvo com tantas tarefas?”. Em seguida, ele mesmo respondia “Sou totalmente louco por tudo isso”.

Loucamente apaixonado e viajando, o Jorge se foi, mas tudo o que ele espalhou pelas estradas da vida ficou, como um verdadeiro prisma que ele tanto queria ser, com a transparência para a qual ele sempre lutava, com a coragem de um vencedor e a certeza de ter compartilhado o que estará sempre sólido entre nós.

Marília Marcucci, redatora da Moore Stephens Prisma - fundada por Jorge Sanitá e sócios