segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Parabéns Drummond: você sabe tudo a meu respeito

Por Marília Marcucci

Toda vez que canto com meus cantores preferidos ou divido meu pensamento com um poema, sinto os autores da obra tão vivos nesta vida que chego a dividir minha casa com eles. Já bebi litros de whisky com Vinícius e Elis no quintal de casa e passei noites em claro com Drummond e Cabral ao mesmo tempo. Na semana passada foi Guimarães. Depois de assistir à peça “Eles estavam lá...” no teatro Rib Cena, não consegui dormir enquanto não coloquei “Primeiras estórias” na cabeceira da cama. Dormia lendo o livro e acordava vendo a peça à noite inteira entre o sono e os sonhos. Esta noite foi Drummond. Eu sabia que o dia nasceria com seu aniversário e estava ansiosa para comemorar. Então, já que acordei às 4h30 da manhã, resolvi levantar e procurar seus poemas. Tentei “escolher” um “preferido”, porque “tendo um preferido”, poderia focar minha homenagem ao poeta. Mas, não conseguia. Estava romântica demais e o meu olhar só via “As sem-razões do amor”. Nunca gostei de poemas românticos! Por que escolheria justo esse poema? Sempre gostei de metalinguagem, temas políticos, questões filosóficas, menos de romance para poesia... Mas quem disse que amor não é questão filosófica ou metalinguística? Ri de mim mesma e resolvi aceitar minha escolha. Afinal, é o estado da gente que determina a escolha e “As sem-razões do amor”, sabendo disso, vinham vestidas de romance só para chamar minha atenção, mas no fundo, queriam dizer outras tantas coisas, inclusive sobre o motivo das visitas drummondianas em plenas noites de sono:

As sem-razões do amor
(Carlos Drummond de Andrade)

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Parabéns Drummond pelo seu aniversário! Visite-me sempre quando quiser. Já nem sei mais quem escolhe quem. Se eu escolho você ou se o seu poema me escolhe. Só sei que de mim, você entende muito!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Para iluminar os cantos esquecidos, hoje é dia de rock!

Rock: uma releitura de Banquete

A casa estava praticamente vazia, sem fachada. A única luz que se via vinha da sala de jantar, onde havia poucas cadeiras e uma mesa de frutas. Parecia que todo o resto da casa havia ficado para trás e que a partir de algum acontecimento, passou a existir somente aquela mesa. O que havia acontecido ali? Por que tanta luz num mesmo lugar, enquanto o resto da casa ficava esquecido? Olhei tudo de novo e vi uma porção de frutas. Um burburinho entre pessoas. 

Enquanto burburinhavam, as pessoas se serviam de frutas, umas cobertas de mel, outras partidas com as próprias mãos. “Rock, Rock, Rock, Rock (...)”, repetiam umas para as outras, sucessivamente, até se tornarem um canto único prestes a quebrar todas as telhas da casa.

Rock era o banquete daquelas pessoas que se serviam para banquetear outras, outras e outras. Como expectadora, chegava a minha vez de banquetear. Eu experimentava o Rock estanque da fachada, apta a percorrê-lo por dentro, ascender todas as luzes da casa e iluminar os cantos esquecidos.