Ao querido elenco de "Hoje é dia de rock"
Sobre o fazer artístico, um dia Octávio Paz escreveu: "Não há cores nem sons em si desprovidos de significação: tocados pela mão do homem, mudam de natureza e penetram no mundo das obras. E todas as obras desembocam na significação; aquilo que o homem toca se tinge de intencionalidade: é um ir em direção a... O mundo do homem é o mundo do sentido. Tolera a ambiguidade, a contradição, a loucura ou a confusão, mas nunca a carência de sentido".
Talvez seja por isso que José Vicente criou uma personagem como Pedro, cujo caminho é a morte diante da impossibilidade do fazer artístico. Talvez seja por isso que mesmo diante de tantos desencontros, a peça "Hoje é dia de rock" se levanta, fazendo sentido para tantas pessoas que sentam à sua plateia às lágrimas e gargalhadas. Talvez seja por isso que, como espectadora da peça na última sexta-feira, eu visitava minha casa - a casa onde eu nasci para "ir em direção a...", mas que eu nunca deixarei de habitar. Obrigada "Hoje é dia de rock" por me receber. Nós estávamos na nossa casa. Foi um belo espetáculo!
sábado, 9 de junho de 2012
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Ana Paula
Ontem conheci a Ana Paula, uma
baiana simpática que, como tantos outros nordestinos, veio “tentar a vida” no
Estado de São Paulo. Parei para tomar um sorvete na barraquinha onde ela
trabalha e, em poucos minutos, parecíamos duas amigas. Desabafar com uma pessoa
praticamente desconhecida é uma experiência interessantíssima e revela coisas
surpreendentes sobre si mesmo. É uma prática que todos deveriam tentar.
Ana Paula contou-me que conheceu seu
namorado pela internet e que ele lhe daria uma aliança de compromisso no dia
dos namorados. Um rapaz bonito (ela me mostrou a foto dele pelo celular) que
faz faculdade em São Carlos e mora em Guariba. Ana veio embora para o interior
de São Paulo, em busca de trabalho e sustento, já que o emprego na sua cidade
(próxima a Vitória da Conquista BA) é muito escasso. Deixou seus pais e duas
irmãs mais novas que tão logo seguirão o mesmo caminho. O irmão mais velho
rumou para o Mato Grosso. Ana veio para cá porque tem uma prima na região. As
duas dividem uma morada em Pradópolis e todos os dias pegam um ônibus para
Ribeirão Preto. Ana, para trabalhar na barraquinha de sorvetes; a prima, para
trabalhar em uma loja de conveniência. Perguntei até que horas funcionava a
barraquinha de sorvetes. “Até as 10 da noite”, ela respondeu. E me contou sobre
o dia em que teve de juntar papelão para forrar o chão para dormir. O gerente
exigiu que ela trabalhasse até as 2h da manhã e depois desse horário não havia
mais ônibus para Pradópolis. Ele se recusou a pagar um moto-taxi e disse que
ela poderia dormir no quartinho onde se guarda os mantimentos do sorvete. Sugeriu
ainda, que ela juntasse os papelões das caixas de sorvete para forrar o chão.
Ali, então, na verdade, sob os papelões, ela esperou o dia clarear, porque
dormir era, praticamente, impossível. Agora, o gerente quer que ela trabalhe
até as 2h um sábado por mês e garante que o quartinho de mantimentos fica à sua
disposição. Ana ainda não sabe como irá lidar com essa situação. Ela está a
procura de um lugar para dormir em Ribeirão. Enquanto isso, nós continuamos
comprando sorvete e contribuindo para sua empregabilidade.
segunda-feira, 4 de junho de 2012
Lesadamente catártica?
Ainda catártica com “Lesados”, o
espetáculo que assisti ontem no teatro Ribeirão Em Cena, acordo às pressas na
manhã desta segunda-feira, para não chegar atrasada ao trabalho. Mas, como
todas as segundas-feiras, chego atrasada, ligo o computador e retomo as
pendências da última semana. Tomo um café e a única imagem que me vem à cabeça é
a de uma pilha de malas sendo levada para cá e para lá. Quem assistiu a “Lesados”
sabe do que eu estou falando. Mais do que dar cena à inação presente na humanidade
cotidiana, a peça dá voz ao grito silencioso que ecoa dentro da gente todas as
vezes que não sabemos o que nem como fazer – o grito dentro, que em vez de aguçar,
desafina; em vez de afiar, corta. É uma peça obrigatória para quem deseja lutar
contra essa realidade e fazer a diferença. Um texto-ação lindo, daqueles que a
gente sempre diz para si mesmo, mas dificilmente coloca para fora. Um trabalho
primoroso de ator e direção. Um show de criatividade. Indispensável.
A peça “Lesados” compõe a XI Mostra
de Teatro Ribeirão Em Cena 2012, patrocinada pelas Empresas 3M, Bebidas Ipiranga,
Citroen Independence e Noble Bioenergia.
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