Ontem conheci a Ana Paula, uma
baiana simpática que, como tantos outros nordestinos, veio “tentar a vida” no
Estado de São Paulo. Parei para tomar um sorvete na barraquinha onde ela
trabalha e, em poucos minutos, parecíamos duas amigas. Desabafar com uma pessoa
praticamente desconhecida é uma experiência interessantíssima e revela coisas
surpreendentes sobre si mesmo. É uma prática que todos deveriam tentar.
Ana Paula contou-me que conheceu seu
namorado pela internet e que ele lhe daria uma aliança de compromisso no dia
dos namorados. Um rapaz bonito (ela me mostrou a foto dele pelo celular) que
faz faculdade em São Carlos e mora em Guariba. Ana veio embora para o interior
de São Paulo, em busca de trabalho e sustento, já que o emprego na sua cidade
(próxima a Vitória da Conquista BA) é muito escasso. Deixou seus pais e duas
irmãs mais novas que tão logo seguirão o mesmo caminho. O irmão mais velho
rumou para o Mato Grosso. Ana veio para cá porque tem uma prima na região. As
duas dividem uma morada em Pradópolis e todos os dias pegam um ônibus para
Ribeirão Preto. Ana, para trabalhar na barraquinha de sorvetes; a prima, para
trabalhar em uma loja de conveniência. Perguntei até que horas funcionava a
barraquinha de sorvetes. “Até as 10 da noite”, ela respondeu. E me contou sobre
o dia em que teve de juntar papelão para forrar o chão para dormir. O gerente
exigiu que ela trabalhasse até as 2h da manhã e depois desse horário não havia
mais ônibus para Pradópolis. Ele se recusou a pagar um moto-taxi e disse que
ela poderia dormir no quartinho onde se guarda os mantimentos do sorvete. Sugeriu
ainda, que ela juntasse os papelões das caixas de sorvete para forrar o chão.
Ali, então, na verdade, sob os papelões, ela esperou o dia clarear, porque
dormir era, praticamente, impossível. Agora, o gerente quer que ela trabalhe
até as 2h um sábado por mês e garante que o quartinho de mantimentos fica à sua
disposição. Ana ainda não sabe como irá lidar com essa situação. Ela está a
procura de um lugar para dormir em Ribeirão. Enquanto isso, nós continuamos
comprando sorvete e contribuindo para sua empregabilidade.
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